segunda-feira, 25 de abril de 2011

Carta ao amigo Renatinho,




Salve velhinho! Deu vontade de te escrever essas linhas e agora boto os dedos a teclar quase à velocidade da mente tudo isso que se segue.

Quero te lembrar e registrar dois carnavais.

No primeiro, amigo, eu estava na roubada. Morava nas Braunes, era sexta de carnaval e chovia em Friburgo, como de costume. Depois do bloco das piranhas restava já as trevas e nada instigava continuar naquele cenário não fosse a chuva que desanimava qualquer subida de ladeira acima. À porta do boteco da Farinha Filho te pedi um cigarro e, nem me lembro de quê, engatamos animada conversa sobre Friburgo. Dentre referências aqui, outras ali, logo chegamos ao amigo em comum: Monjão. Figura amada é nosso Monge! Pronto, estávamos selados com o melhor dos predicados poderíamos dispor um do outro: tu amigo do Igor de infância; eu sócio do grande Monge na Urânia. Precisados de mais nada, tu me salvas das águas e das ladeiras ingrímes e durmo na centenária casa da Sete de Setembro. Começou ali uma grande amizade.

Sabe velhinho, já nem se contam o número de comemorações especiais dividimos: meus aniversários na casa da vovó e da tia; festa da montanha mágica; teu aniversário com direito a “frisbie” em Icaraí; até discurso em noite de natal eu proferi em tua casa, com tua tanto minha adotada família. Jogos do Vasco, Junito Brandão de Souza e toda mitologia, Foucalt, Thompson, Eric Hobsbawn e uma rodada de general antes da aulas. “La vecchia Donna” em missão de cachoeira nessa terrinha abençoada que nos uniu em fraterna comunhão. Acompanhamos os projetos do amor, essa eterna quimera, que torcemos fossem definitivas e, em cada nova missão, reciprocamente, devotamos todas as felicidades. Aliás, desde a fase célebre da morada das Braunes, somente Suriam persiste e, ao que parece, logo teremos outra comunhão para comparecer.

Pois bem irmão, malogrado num, agora renascido no amor da linda morena (dessas belezas de dimensões profundas que mechem com a gente) recebi o grande convite para o segundo carnaval, antes aqui anunciado seria lembrado.

Qual ciclo cósmico misterioso, eu estava sentado em um restaurante ao lado daquele boteco que há exatos 8 anos atrás nos conhecíamos, quando tu me ligas para perguntar: “o que você vai fazer no domingo de carnava¿”, respondi que ia ao Rio de Janeiro e tu logo emendava: “então se prepara que vai ser o meu casamento com Marcele”. Liliane à minha frente é testemunha do furor de minha felicidade e euforia. Que felicidade irmãozinho meu, saber e sentir tua grandeza de espírito para, no mais dos carnais dos eventos dessa humanidade nossa, celebrar o divino encontro de duas almas. De pronto, meu querido, lembrei da cervejinha que tomamos na Ladeira Robadey, quando me contavas, com entusiasmo, da beleza da mulher que animava. Com o carinho de irmão registrei aquilo como algo realmente especial, sentimento que te tomava como jamais, d’entre todas as histórias existentes, eu vira em teu rosto “trakinas” de ser. É irmão, tu me ligava para realizar um convite generoso de ser porta voz da celebração daquele amor que te avermelhava a face e, naquele instante, com o teu convite, chorei.

Chorei irmão! Chorei pelo ciclo cabalístico da coisa toda e de receber de ti tal voto e incumbência que, tenho certeza, seria desejada por muitos. Tu me ligas quando eu estou exatamente no local d’onde começamos a história de nossa amizade, me convidas quando também eu (e creio essa seja a novidade desta carta) comemorava minha comunhão pois eu e Liliane havíamos acabado de encerrar o contrato da casa que conhecestes (havia naquele instante a concretização do projeto do amor da vida eterna) e tu me chamas para ser o mestre de cerimônia do teu projeto! Chorei mesmo.

Daquele dia em diante, há duas semanas da data feliz, passei a orientar meu espírito com todas as forças para dignificar o convite feito. Pensei, pesquisei rituais, perguntei ao hetério como desempenhar esse papel com toda honradez cabível. Mentalizei Marcele e alimentei, todos os dias um carinho profundo pelo sorriso de vocês – memória daquele almoço na Rua Sete – assim como evoquei, novamente, tua cara feliz ao me contar o como ela te “aperreava” o juízo na redação do jornal.

Sabe Rena, cheguei até a fazer roteiro, "escrevinhei" script na madrugada mas joguei tudo fora. Teimava mas tive que admitir que seria ali, de pronto, como sempre, que a verve e o verbo se revelariam para conjurar o amor de vocês dois e, com toda dedicação, o maior esforço era mesmo o de promover uma grande aura de proteção sobre os amantes.

Eis, então, grande amigo-irmão, que rompi no espaço todas as palavras que estavam imanentes à espera daquele momento e, com toda metafísica possível, incorporei o jagunço casamenteiro sem medo de errar. De fato, sabia apenas que tuas juras recíprocas de amor precisavam de momento certo e preciso, e, que com a benção de todos os amigos ali presentes, restasse claro que a fantasia é o espírito da realidade e sob a crença de meus afilhados soubessem todos, encarnados ou desencarnados, que o sacro e o profano habitam no amor e, com ele, há de ser feito um eterno carnaval: da folia à rebordosa, para que tudo se renove e venha o novo ciclo da vida.

Feliz assim,velhinho, lembrarei desse momento de honra e, com muita vaidade, baterei sempre no peito a dizer que fui símbolo de sua união e fala para tua amada que a trarei sempre no peito com todo carinho, pelos olhinhos brilhantes de alegria e os choros de felicidade que vocês nos brindaram naquele domingo de carnaval.

Com amor, do padrinho,

Thiago Mello

Um comentário:

  1. Amigo,
    leio este pots muito emocionado, certo de que fiz a mais bela escolha ao te chamar para dormir na minha casa naquele Carnaval. Você é um irmão. Daqueles que a gente não escolhe, não pede, simplesmente reencontra nas linhas do trempo. Te amo do fundo do coração. Obrigado!!! Um abraço,
    Renatinho

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