segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crônica - Costume do olhar

Praia do Francês - Alagoas
Foto: Ig Carneiro


Tenho um velho hábito ao olhar imagens com a paisagens do mar ao fundo: olho sempre as condições do mar para o surf. Hoje, mais uma vez, assisti ao jornal da manhã e no take de Macaé, meu olhar vai direto para a arrebentação atrás do jornalista e seu entrevistado. Vejo uma foto qualquer e logo olho para as ondas e é sempre assim: primeiro o mar, depois as pessoas. É engraçado isso.
Criado na praia, pequeno me divertia com as ondas arrebentando na areia. Quando muito pirralho voltava com a sunga que era só areia. A diversão era brincar de carrinho com as ondas que avançavam e recuavam na areia. Nessas ocasiões, um volante imaginário em minhas mãos guiava o fórmula 1 que rugia em alta velocidade no ir e vir da brincadeira. Mais tarde, era um Moribugi quem me balançava n'água, aos oito anos de idade já me preocupava em pegar o terral. Aos treze ganhei minha primeira prancha de surf e por 10 anos da minha vida entendia de muito pouca coisa mas sabia de ondas e, com toda curiosidade de eterno aprendiz, fitava o mar para entender e aprender sempre mais.
Da janela do meu quarto eu tinha ao fundo um trecho do Produban (parte da praia da Guaxuma que levava esse nome por conta de um clube ali existente) e todos os dias de manhã meu primeiro olhar era dirigido para aquele canto. Ali eu sabia como estavam as condições do mar. Durante o dia, abria a porta da casa, dava um passo na calçada e olhada para os recifes que me diziam se a maré estava alta ou baixa, subindo ou baixando. Tudo para me certificar das melhores condições do surf.
E têm sido assim, desde sempre, minha inquieta curiosidade para saber do mar. O mais engraçado mesmo é que já se vão 12 anos morando na serra, contando poucas sessões de surf por ano e o olhar continua atento, inquieto de fato, sobre as condições do mar.
Hoje o dia na montanha está lindo. Nuvem alguma no céu de azul profundo e eu pensando nas condições do mar.
Deixa que a pranchinha está em bom estado e logo estarei de frente ao gigante, recebendo a maresia, para mais um mergulho e, com o eterno costume do olhar, estudarei o movimento e as condições do surf, para lavar a alma.
Aloha!


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crônica - A área tá cheia...de nada.


Sou vascaíno e minha paixão pelo futebol sempre foi alimentada pela mística da camisa cruzmaltina e seus grandes artilheiros mas sempre gostei mesmo é de Futebol, daqueles bem jogados e brilhantes.

Quanto ao Vasco, minha geração foi beneficiada com times que contavam com Mazinho, Giovani, Luís Carlos Wink, Pedrinho, Felipe, Juninho Pernambucano, Jorginho, Mauro Gauvão, Bismark, Sorato, Juninho Paulista, dentre tantos outros nomes que se consagraram campeões brasileiros e Sul-americanos (Libertadores e Sul-americana), porém era no ataque que tínhamos os grandes brilhos e espetáculos e nos últimos 25 anos conquistamos 3 brasileiros, uma Sul-americana e uma Libertadores, além de alguns estaduais e torneios menores.

Mas no ataque: temos o maior artilheiro do campeonato brasileiro de todos os tempos, Roberto Dinamite; revelamos Edmundo, que têm a maior média de gols em único campeonato (97); Romário – sem maiores comentários; e, mesmo Bebeto, revelado no rival Flamengo, teve seus melhores momentos no futebol brasileiro enquanto esteve no Vasco. Sim, o Vasco sempre teve ótimos ataques!

Agora, confesso estou entusiasmado com as possibilidades que o time apresenta enquanto conjunto. Nivelado pelo panorama atual do futebol brasileiro (como diria Ivan: o qual nos acostumamos ao baixo rendimento) e voltei a vestir a camisa em dias de jogos, colocar a bandeira no colo para torcer. Nunca abandonei o time, porém, era duro acreditar nos elencos e nos esquemas adotados nos últimos 10 anos.

Mas quero falar um pouco além do Vasco. Quero mesmo é tratar de um diagnóstico preocupante: estamos com déficit de atacantes no Brasil!

Como citei anteriormente, o Vasco sempre contou com atacantes de ofício, que além dos gols, protagonizavam jogadas excepcionais e funcionavam para o sucesso dos times em que jogavam mas o time cruzmaltino era mais um entre os grandes times do Brasil que contava com grandes atacantes. Hoje, todos estão à meia bomba e, à exceção de Neymar, sofremos uma total ausência de atacantes certeiros e decisivos.

Peço aos leitores que me ajudem e me indiquem algum grande atacante que possa eu colocar os olhos para melhor análise, pois, além de torcedor do Vasco, sou admirador do bom futebol e, como outrora perdi entusiasmo em torcer pelo meu time, hoje tenho ânimo algum em assistir qualquer jogo que seja. Para que entendam: acreditei que Santos x Corintians seria um grande jogo, Neymar x Liedson prometiam e...tédio.

Para o bem da verdade gosto de alguns jogadores, porém nenhum deles atua no Brasil. Nilmar é o destaque. Mesmo André (ex-menino da vila) também me agrada, mas não são aqueles que entram em campo e podemos dizer com certeza: agora vai!

Assim foi com Romário, assim com Edmundo, assim foi com Ronaldo Fenômeno, mesmo Renato Gaúcho, Careca, Müller, e até Túlio eram decisivos. Vejam que me restingi aos atacantes (para mim, a posição mais carente no Brasil hoje), pois poderia continuar a lista e enumerar Zico, Falcão, Sócrates, e uma infinidade de craques mas me preocupam mesmo são os atacantes!

Isso tudo me lembra um comentarista (não recordo quem) que certa vez profetizou, no início da presente década, que o futebol brasileiro corria sério risco de perder uma geração de atletas pois as escolinhas e as bases dos clubes brasileiros estavam investindo em atacantes grandes, robustos, bons de cabeceio pois essa era a tendência de mercado e consumo dos clubes da Europa. Agora, estamos sem os baixinhos e é um magricela moicano quem apavora as zagas de norte à sul e fronteiras além.

Quero ver gol de baixinhos no meio da zaga sueca e poder ver um jogo qualquer com direito a jogadas diferenciadas e conscientes. Porém, com o triste sabor da realidade, na quarta-feira próxima, vou torcer para que os medianos Wiliam e Rafael Coelho (dois ex jogadores do Vasco) estejam menos inspirados que Edér Luís e Alecsandro e que meu time retome sua trajetória de grandes viradas e títulos.

Para finalizar, me entristece até o Flamengo ter admirado Obina e hoje depender de Deivid, me entristece o Fluminense acreditar que Fred é o supra-sumo dos atacantes(com direito a moradia “Fasiônica” – não resisti a corruptela), o Botafogo não ter senão um Uruguaio como seu maior ídolo no momento, e o Vasco...bem, meu senso de auto-preservação me impede de terminar a sentença e deixo ao critério do leitor declarar o final que melhor apetecer.

Tenho dito!

ps.: VAAAASSSCOOO!!!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Poesia - No Alto da Montanha




Acima da cidade é natal o ano inteiro
Abaixo dos meus pés
Restam luzes cintilantes das casinhas que se vêem ao longe
E pertinho do Céu
Aviões passam ao lado indo para lugares bem distantes

Tudo isso no alto da montanha

Acima da cidade a pedra do Elefante parece bibelô de sala
A lua nasce no horizonte
E o mar aqui é de morros
Com direito a cobertura de nuvens
E pitadas de orvalho sobre a grama

Tudo isso no alto da montanha

No forno de pizza o rodízio é certo
A lareira esquenta a alma
E os corpos se grudam para aproveitar todo o calor
Com manta, caldinhos e um vinhozinho
As coisas seguem com sabor tremendo

Tudo isso no alto da montanha

E segue a vida, semanas que entram e saem
Finais de semana que voam
Noites longas, por vezes cansativas
Para que tudo se acerte e mantenha o seu prumo
De delícia e sabor

No Alto da Montanha...

...com tudo isso.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Carta ao amigo Renatinho,




Salve velhinho! Deu vontade de te escrever essas linhas e agora boto os dedos a teclar quase à velocidade da mente tudo isso que se segue.

Quero te lembrar e registrar dois carnavais.

No primeiro, amigo, eu estava na roubada. Morava nas Braunes, era sexta de carnaval e chovia em Friburgo, como de costume. Depois do bloco das piranhas restava já as trevas e nada instigava continuar naquele cenário não fosse a chuva que desanimava qualquer subida de ladeira acima. À porta do boteco da Farinha Filho te pedi um cigarro e, nem me lembro de quê, engatamos animada conversa sobre Friburgo. Dentre referências aqui, outras ali, logo chegamos ao amigo em comum: Monjão. Figura amada é nosso Monge! Pronto, estávamos selados com o melhor dos predicados poderíamos dispor um do outro: tu amigo do Igor de infância; eu sócio do grande Monge na Urânia. Precisados de mais nada, tu me salvas das águas e das ladeiras ingrímes e durmo na centenária casa da Sete de Setembro. Começou ali uma grande amizade.

Sabe velhinho, já nem se contam o número de comemorações especiais dividimos: meus aniversários na casa da vovó e da tia; festa da montanha mágica; teu aniversário com direito a “frisbie” em Icaraí; até discurso em noite de natal eu proferi em tua casa, com tua tanto minha adotada família. Jogos do Vasco, Junito Brandão de Souza e toda mitologia, Foucalt, Thompson, Eric Hobsbawn e uma rodada de general antes da aulas. “La vecchia Donna” em missão de cachoeira nessa terrinha abençoada que nos uniu em fraterna comunhão. Acompanhamos os projetos do amor, essa eterna quimera, que torcemos fossem definitivas e, em cada nova missão, reciprocamente, devotamos todas as felicidades. Aliás, desde a fase célebre da morada das Braunes, somente Suriam persiste e, ao que parece, logo teremos outra comunhão para comparecer.

Pois bem irmão, malogrado num, agora renascido no amor da linda morena (dessas belezas de dimensões profundas que mechem com a gente) recebi o grande convite para o segundo carnaval, antes aqui anunciado seria lembrado.

Qual ciclo cósmico misterioso, eu estava sentado em um restaurante ao lado daquele boteco que há exatos 8 anos atrás nos conhecíamos, quando tu me ligas para perguntar: “o que você vai fazer no domingo de carnava¿”, respondi que ia ao Rio de Janeiro e tu logo emendava: “então se prepara que vai ser o meu casamento com Marcele”. Liliane à minha frente é testemunha do furor de minha felicidade e euforia. Que felicidade irmãozinho meu, saber e sentir tua grandeza de espírito para, no mais dos carnais dos eventos dessa humanidade nossa, celebrar o divino encontro de duas almas. De pronto, meu querido, lembrei da cervejinha que tomamos na Ladeira Robadey, quando me contavas, com entusiasmo, da beleza da mulher que animava. Com o carinho de irmão registrei aquilo como algo realmente especial, sentimento que te tomava como jamais, d’entre todas as histórias existentes, eu vira em teu rosto “trakinas” de ser. É irmão, tu me ligava para realizar um convite generoso de ser porta voz da celebração daquele amor que te avermelhava a face e, naquele instante, com o teu convite, chorei.

Chorei irmão! Chorei pelo ciclo cabalístico da coisa toda e de receber de ti tal voto e incumbência que, tenho certeza, seria desejada por muitos. Tu me ligas quando eu estou exatamente no local d’onde começamos a história de nossa amizade, me convidas quando também eu (e creio essa seja a novidade desta carta) comemorava minha comunhão pois eu e Liliane havíamos acabado de encerrar o contrato da casa que conhecestes (havia naquele instante a concretização do projeto do amor da vida eterna) e tu me chamas para ser o mestre de cerimônia do teu projeto! Chorei mesmo.

Daquele dia em diante, há duas semanas da data feliz, passei a orientar meu espírito com todas as forças para dignificar o convite feito. Pensei, pesquisei rituais, perguntei ao hetério como desempenhar esse papel com toda honradez cabível. Mentalizei Marcele e alimentei, todos os dias um carinho profundo pelo sorriso de vocês – memória daquele almoço na Rua Sete – assim como evoquei, novamente, tua cara feliz ao me contar o como ela te “aperreava” o juízo na redação do jornal.

Sabe Rena, cheguei até a fazer roteiro, "escrevinhei" script na madrugada mas joguei tudo fora. Teimava mas tive que admitir que seria ali, de pronto, como sempre, que a verve e o verbo se revelariam para conjurar o amor de vocês dois e, com toda dedicação, o maior esforço era mesmo o de promover uma grande aura de proteção sobre os amantes.

Eis, então, grande amigo-irmão, que rompi no espaço todas as palavras que estavam imanentes à espera daquele momento e, com toda metafísica possível, incorporei o jagunço casamenteiro sem medo de errar. De fato, sabia apenas que tuas juras recíprocas de amor precisavam de momento certo e preciso, e, que com a benção de todos os amigos ali presentes, restasse claro que a fantasia é o espírito da realidade e sob a crença de meus afilhados soubessem todos, encarnados ou desencarnados, que o sacro e o profano habitam no amor e, com ele, há de ser feito um eterno carnaval: da folia à rebordosa, para que tudo se renove e venha o novo ciclo da vida.

Feliz assim,velhinho, lembrarei desse momento de honra e, com muita vaidade, baterei sempre no peito a dizer que fui símbolo de sua união e fala para tua amada que a trarei sempre no peito com todo carinho, pelos olhinhos brilhantes de alegria e os choros de felicidade que vocês nos brindaram naquele domingo de carnaval.

Com amor, do padrinho,

Thiago Mello

segunda-feira, 14 de março de 2011

Poema - Dia-a-dia


dia-a-dia
aprofundo o mergulho
aumento o fôlego
e abro os olhos

dia-a-dia
flutuo com a beleza
de cores e sons que atingem em cheio
coração e alma

dia-a-dia
faço submergir assim
toda segurança e fragilidade
ao ser completamente envolto

dia-a-dia
num ambiente sem domínio
que se há sempre de respeitar
saudar e contemplar

coisas que só um mergulho podem ensinar

e

...

aprofundo o mergulho
aumento o fôlego
e abro os olhos

dia-a-dia.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Cinema








O Discurso do Rei (The King's Speech)

O carnaval também foi acompanhado de bons filmes. No domingo de carnaval eu e Lili fomos ao Roxy (Nsa. Sra de Copacabana com Bolivar) assistir ao "Discurso do Rei", cujo estávamos ansiosos para ver e bom tê-lo visto em uma sala de cinema de qualidade.
O filme é até simples. Narrativa linear das experiências traumáticas de exposição pessoal e tentativas de cura da gagueira daquele que seria coroado Rei George VI (Colin Firth) que chega até Lieonel Logue (Geofrey Rush), um ator frustrado que ganha a vida oferecendo "consultas" para pessoas com problemas de fala.
Lionel seria hoje qualificado com um "coach" de primeira linha, tirando o Rei da zona de conforto desde o primeiro encontro - o que proporciona boas risadas. Como pano de fundo histórico está a renúncia do irmão do Rei e a declaração da 2a. Grande Guerra, que aliás rendeu para mim uma das sequências que poderiam ser melhor exploradas: o contraponto entre a eloqüência e grande capacidade de comunicação de Hitler e a timidez e gagueira de George VI.
De fato, o filme não consegue explorar muito as subtramas das disputas de poder do Império Britânico e somente ao final me percebi da personagem de Wiston Churchil, mas, creio isso fora de propósito dada a ansiedade que o filme provoca quanto ao desenvolvimento do relacionamento do "coach" com seu cliente.
Me chamaram a atenção os enquadramentos, em especial quanto as primeiras seqüências das sessões de George e Lionel, posto o grande vazio colocando os atores em primeiro plano e com 2/3 das telas com a textura das paredes descascadas do consultório nada Vitoriano de Lionel. Enquadramento esse que destaca a tensão e a pretensa "autoridade" do "terapeuta" perante o ilustre "paciente".
O final é consagrador e, como já foi escrito anteriormente por outros cronistas, o filme trata de confiança e amizade, numa relação de desiguais, em que é preciso ceder para acessar o outro e se permitir para realizar aquilo a que se está predestinado.

Preciosa (Precious)

Já de volta a Friburgo e numa quarta-feira de cinzas que foi realizada entre faxina doméstica e encaixotamento de bens e coisas para mudança, pegamos dois filmes, dentre eles "Preciosa". Confesso que há muito resisti em ver esse filme. Já cheguei até em alugá-lo, umas duas vezes, e não assisti. Razão boba e inexplicável: ando um tanto avesso aos dramas em geral. Talvez já tenha sublimado com o tanto de realidade nos é jogado na cara todos os dias. Mas eis que, enfim, peguei o filme com a determinação em assisti-lo.
É um soco no estômago! As reflexões trazidas para entender todas as razões envolvidas, para entender toda a fragilidade de Precious Jones (Gabourey Sidibe), a crueldade de sua mãe (Mo'nique), a deficiência do sistema de proteção para que aquela situação perdurasse por tanto tempo, enfim, a dureza da apresentação da personagem somente é amenizada com a providencial imaginação de Precious que a distancia dos eventos grotescos e absurdos aos quais passa.
Ambientado em Nova Iorque de 1987, o filme também apresenta locações de "simples" produção e a direção de fotografia nos contempla com enorme desconforto visual e estético do ambiente no qual Precious reside. Tive a impressão que minha resistência em ver o filme era instintivamente justificável com aquele ambiente degradante. Também o grau de perturbação psicológica em que vive a heroína do filme me dava a certeza que havia resistido devidamente.
Porém o filme é uma narrativa de superação e esperança. Um libelo de vida e grito de liberdade que a despeito de tudo de ruim que acontece, clama por um novo cenário, tal qual aqueles vislumbrados por Precious em seus momentos de fuga imaginativa. Na seqüência mais barra pesada, ansiei pelo destino seria dado à personagem principal e, com a crueza que começara, o filme termina deixando o mal estar e pano pra manga para todas as reflexões vindouras.
Dentre elas: acho que o filme trata da força e vulnerabilidade da mulher, das relações de força, opressão e redenção que aquelas mulheres, negras, proporcionaram às vidas de suas personagens.
Pesado, mas um excelente filme!

Fora de Controle (What Just Happened)

Foi o segundo filme alugado na quarta de cinza. E que deliciosa descoberta! Com um staff de superprodução, com Robert De Niro, Sean Penn, John Turturro, Michel Wincott, Bruce Willis, Catherine Keener, Stanley Tucci, Kristen Stewart, o filme pode até ser considerado de uma narrativa de metalinguagem ao tratar dos bastidores de uma semana da vida de um produtor cinematográfico em Hollywood.
Vivendo a separação de seu segundo casamento e ainda afixionado pelo ex-mulher, Robert De Niro protagoniza um produtor que vive para administrar crises. Nosso herói enfrenta um diretor que surta ao ver os executivos do estúdio querendo mudar o final de sua obra prima depois de uma exibição de avaliação; o ator (Bruce Willis representando à ele mesmo) que surta e coloca toda a gravação de um novo filme em risco com a teimosia em manter uma barba salomônica - completamente fora do que se espera da imagem de Bruce Willis; enfrenta o agente de atores que sofre com crises gástricas ao ter que enfrentar Bruce para tirar a barba; encara ainda a descoberta que a filha já é uma mulher, com 17 anos de idade, apaixonada por outro produtor cinematográfico; além de lutar para manter os vínculos com sua ex-mulher que, por sinal, já está em novo caso amoroso.
Com um ritmo sereno, o filme vai nos conduzindo entre ligações e conversas estressantes, numa agenda lotada de compromissos em que nosso personagem principal se encontra sempre em deslocamento, retratando bem a vida de produtores cinematográficos - guradadas as devidas grandezas da indústria americana - com os percalços e dramas da vida pessoal do personagem que vê todos seus relacionamentos na montanha russa de sua profissão.
Confesso me identifiquei com a personagem à medida que minhas relações pessoais, e o tempo da minha vida, são diretamente afetados pela minha escolha profissional e sofro com a falta de tempo, até para coisas mais tranqüilas e simples como a família e saúde (não sou produtor de cinema mas trabalho com projetos culturais e, com isso, devo estar em lugares e com pessoas que, por vezes não é uma escolha e sim uma obrigação, consumindo finais de semana e noites à fio em que a atenção é mais profisisonal que pessoal).
Por fim, nosso personagem revela toda a dimensão das causas e efeitos de "processos produtivos" mal conduzidos, haja visto que o cinema americano é, notadamente, um cinema de produtor e o que interessa é o resultado final com atenção às necessidades e comportamentos do público.
O roteirista com certeza "desopilou" o fígado ao escrever esse filme e imagino tenha sido muito prazeroso para os produtores Art Linson, Jane Rosenthal e Barry Levinson exporem suas angústias nessa divertida produção, sem esquecer do prazer que o próprio Robert De Niro deve ter sentido ao também assinar a produção do filme.
Acredito que, exatamente por tratar de uma visão de dentro da indústria, com tamanha inteligência, fluência de roteiro e deliciosa direção de Barry Levinson, é que tenhamos a oportunidade de vermos tão grande elenco em tão divertida produção.
Recomendadíssimo!

Carnaval


Carnaval. Tempo de liberdade do humor e aceitação de tudo aquilo que nos aborrece no dia-a-dia. Esse ano fui para o Rio novamente e como estava cheia a cidade! Impressionante o número de pessoas nos blocos, nas filas dos restaurantes, na fila dos banheiros, enfim, algo assim inimaginável. Porém, o que vi foi só alegria. Pessoas fantasiadas no metrô às 7 da manhã, fantasiadas nas ruas às 0 horas, fantasiadas em todos os lugares, de todas as formas.

A questão de ser ou não ser mijão de rua tomou conta de todas as conversas, sempre que se comentava o número de pessoas que estavam nos blocos. Me pergunto se a prefeitura não deveria fazer um convênio com os estabelecimentos comerciais para que estes autorizassem o uso de suas dependências pelos foliões da cidade. Juro que tentei ao máximo respeitar a cidade mas houveram umas duas situações que simplesmente não deu e, com toda culpa cristã que me povoa, molhei a estrutura da perimetral ao lado da Praça XV. Confesso com vergonha mas livre da hipocrisia, pois fui resistente até o último minuto. A fila do Banheiro ia do início da Praça XV até o Arco do Teles, ou corria para a perimetral ou faria nas calças. Aliás, fantasia de Bebê, com fraldão, passaram a chamar muito mais minha atenção, assim como, chamou minha atenção uma moradora de rua que montou uma estrutura de lona e cobrava um real por mulher para que essas se aliviassem, também embaixo da estruturada Perimetral.

Sábado eu e Lili fomos para A Banda de Ipanema, com meu pai, Silvana, Pablo, Rosana e Alagoinha. Lá encontramos a “Dilma”, o sobrevivente da enchente e outras tantas fantasias originais que lotavam a praia. Conversamos um bocado, tomamos várias cervejinhas e voltamos cedo para casa.

No domingo celebrei um casamento (que merecerá post próprio) e, para tanto, acordei às 6 horas da manhã pois a concentração estava marcada para 8 horas da manhã, em frente à Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. No Cordão do Boitatá vi umas das melhores fantasias de caranaval: um gordinho vestido de jogador da Seleção Brasileira de Futebol, com a camisa do Ronaldo Fenômeno com uma placa escrita “Hipotiroidismo é Foda!”. Hahahahaha. Achei sensacional! Ainda deu tempo de chegar em casa, descansar um pouco e depois curtir um cineminha no Roxy, onde assistimos o “Discurso do Rei” (que também receberá um post próprio), que agradou bastante.

Segunda reservei para ficar com meu pai e curti-lo um pouco mais. São poucas as vezes que nos vemos por ano e, depois da catástrofe, restou claro como a vida é efêmera e devemos curtir as pessoas que amamos o máximo quanto pudermos. Calhou que a programação dele atendeu à uma curiosidade pois estava bem interessado em ver o estreante bloco “Sargento Pimenta”, com músicas dos Beatles, e, como fomos ao “Bloco da Segunda”, pudemos (eu e Lili) dar uma checada e cantar (dentre outras) “Twist and shout” na maior vibração com cerca de 10 mil pessoas apinhadas em uma pequena rua de Botafogo. O bloco incendiou a multidão e provou que Beatles são eternos e para todos os gêneros de música e geração de ouvintes. Todos, a despeito do aperto, eram só sorrisos e animação. Delicia!

Durante tudo isso, recebíamos notícias que chovia bastante em Friba. O coração apertava mas nenhuma notícia triste aconteceu.

Terça subimos a serra com a alma lavada e fomos dar uma mãozinha no Toka do Siri onde os sogrões e cunhados ralavam servindo os melhores frutos do mar da cidade.

Foi um carnaval para guardar, com todo carinho, na memória.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Retorno

Já há muito não escrevo. Andei sem vontade, sem paciência e com a melhor desculpa de todas: sem tempo! Agora retomo, ansioso para comunicar das crônicas da vida e lançar um tanto de mim assim, no universo paralelo da dimensão digital.
Desde a última postagem muita coisa aconteceu! O amor amadureceu e selou projeto novo de vida, as águas caíram e a lama tomou a cidade, mudando paradigmas e perspectivas, amigos e amigas estão celebrando a vida de várias formas e toda sorte de trabalhos e contatos se realizaram.
Colocarei essa página a par de tudo, calmamente. Postarei impressões, ansiedades, sonhos, desejos, vontades e experiências. Postarei na forma de Crônicas para registrar o tempo das coisas e enxergar, pela lente mediada dos textos, a constante mutação a qual me submeto com tudo que vivo.
Eis, então, de volta ao teclado, o retorno...
e...
Post!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Filmes - Violência no Brasil



Segue uma sugestão de filmes para compreensão da violência, no Brasil e no Rio:

1 - Rio 40º - o abandono e os riscos da infância no Rio nos anos 60;
2 - Cidade de Deus - o resultado de políticas de habitação desastrosos e excludentes;
3 - O Homem do Ano - o ponto de encontro criminoso entre as Classes A e D e como a Classe A se vale do crime para obter lucros;
4 - O Invasor - o mesmo caso do Homem do Ano;
5 - Os Matadores - continuação do Homem do Ano, agora abordando o tráfico de armas, drogas e carros roubados;
6 - Tropa de Elite (1 e 2) - para dever do comentário - que trata da corrupção policial e política fruto do abandono social e os discursos exclusivamente de repressão que prevalecem ao senso comum.

Bem, acredito que, como toda crise, essa nos abre uma oportunidade profunda de discussão e elaboração de novas perspectivas.


terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poesia - Acalanto


Avia verso

Larga do meu peito

Pois é certo o deserto

Que a vida deixa quando se vai


Desprende

Letras e palavras

E aperta o passo

Da rima para desfecho


Põe no eixo

Tudo que é saudade

Para que essa dure pouco

E se faça memória:

- quanto de farinha para o empadão?

- quanto de manteiga para o risole?

- quanto de hortelã para o tabule?

- quanto de cebola para a tortilha?


Avia vida

Dá prosseguimento

E acalanta os nossos

Com novas receitas em nossas cozinhas


Nos faça

Imprescindíveis aos novos

Folclóricos, Históricos e fundamentais

Tal qual ela:

- tempo ruim, boa cara.

-bom cabrito não berra.

- o irremediável remediado está.

- o que aprendi hoje?


Pois assim a saúdo

Em verso e vida

E no contínuo da jornada

Te salvo rainha


Pois assim a saúdo

Em vida e verso

Rememorando os dias

Para o frescor da lucidez


Tal qual tu sempre quis.


Avia verso!

Avia vida!