sexta-feira, 26 de novembro de 2010
Filmes - Violência no Brasil
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Poesia - Acalanto
Avia verso
Larga do meu peito
Pois é certo o deserto
Que a vida deixa quando se vai
Desprende
Letras e palavras
E aperta o passo
Da rima para desfecho
Põe no eixo
Tudo que é saudade
Para que essa dure pouco
E se faça memória:
- quanto de farinha para o empadão?
- quanto de manteiga para o risole?
- quanto de hortelã para o tabule?
- quanto de cebola para a tortilha?
Avia vida
Dá prosseguimento
E acalanta os nossos
Com novas receitas em nossas cozinhas
Nos faça
Imprescindíveis aos novos
Folclóricos, Históricos e fundamentais
Tal qual ela:
- tempo ruim, boa cara.
-bom cabrito não berra.
- o irremediável remediado está.
- o que aprendi hoje?
Pois assim a saúdo
Em verso e vida
E no contínuo da jornada
Te salvo rainha
Pois assim a saúdo
Em vida e verso
Rememorando os dias
Para o frescor da lucidez
Tal qual tu sempre quis.
Avia verso!
Avia vida!
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Texto Liberdade de Imprensa
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
Poesia - Pablo Neruda
Se cada dia cai
Se cada dia cai, dentro de cada noite,
há um poço
onde a claridade está presa.
há que sentar-se na beira
do poço da sombra
e pescar luz caída
com paciência.
Pablo Neruda (Últimos Poemas)
Acontece
Bateram à minha porta em 6 de agosto,
aí não havia ninguém
e ninguém entrou, sentou-se numa cadeira
e transcorreu comigo, ninguém.
Nunca me esquecerei daquela ausência
que entrava como Pedro por sua causa
e me satisfazia com o não ser,
com um vazio aberto a tudo.
Ninguém me interrogou sem dizer nada
e contestei sem ver e sem falar.
Que entrevista espaçosa e especial!
Pablo Neruda (Últimos Poemas)
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Poesia - Estações
Leve é...
a cor primeva
anunciadora
das coisas simples
que navegam
tranquilas
no oceano intangível
daquilo que não se define
que palavra alguma alcança
aquilo que é
só esperança
e
leve é...
o cheiro
de flor de laranjeira
anunciadora
do fruto
alimento da alma
que canta
sons inaudíveis
das melodias que unem
e
se fazem livre
e
se fazem juntas
Pois
leve é
a primavera
que antecipa
dias de calor
para vontades quentes
noites frias
para abraços queridos
dos amantes
que conjuram e desejam
ser
assim
....
leves
...
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Poesia - Você
Crédito: http://www.freedigitalphotos.net
Você
Pronome da segunda pessoa
Que me indica a primeira
Que tem nome próprio
E é musica
Verso e cor
Da vida
Que reflete
Você, em você, por você
Por que
Assim é
Pronome da segunda pessoa
Única
Que é primeira, total e derradeira
Pois
Assim é
Anúncio da tua identidade
Tua individualização
Designativa do verbo
Que se destina
Afinal
Para o bem da rima
Para o bem da vida
É bom
Amar
Você!
terça-feira, 28 de setembro de 2010
Relato
Carinho, amor e comida.
Calor. Parece mesmo que a alquimia de toda a vida começa assim: quente. Assim mesmo estão sempre juntos os prazeres de comer e amar, deliciar um bom prato de comida e dividir o espaço da vida, os temperos e transformações dos sabores.
Sêneca, filósofo romano, em Agamenom, retrata que na vida restavam apenas três prazeres: comer, comer (no sentido carnal do termo) e morrer (entendia ele nos livrávamos do peso de todas as outras coisas desnecessárias na vida no momento da morte), e me faz muito sentido tenhamos em vida os dois primeiros prazeres entre a comida e o amor, antes do prazer último que retira tudo, inclusive a vida.
Tanto no cinema, nos protocolos do galanteio, nos ditados populares a comida antecede o amor e acompanha os amantes antes de seus ápices de cumplicidade e entrega. “Conquistar pelo estômago”, levar para um jantar romântico (até mesmo quando casais querem se conhecer), e inúmeros filmes relacionados a esta simbiótica relação dão o tom de verdade incontestável a esse fato e, por isso mesmo, imagino que anorexos sejam realmente mal amados e por isso aparentam enfadonha tristeza.
Bem, resta agora chegar ao ponto primevo deste texto: almocei esplendorosamente bem hoje! O almoço da simplicidade e delícia que fazem parte de gostar e querer, simples e direto. Comi em casa, depois de estudar por toda a manhã, dois belos sanduíches de pão preto com pasta de frango desfiado, maionese de leite e manjericão com azeite. UMA DELÍCIA!
Já há cerca de 3 meses o calor faz parte do meu cotidiano. A descoberta do sabor, a vontade do ‘repeteco’, a curiosidade de saber dos ingredientes e temperos de Liliane vem sendo a tônica de meus dias. Por vezes pareceu que o prato desandara. Salgado demais, intenso demais, aguado de mais, mas, como da primeira linha desse texto, esse é o calor da alquimia que alimenta a vida e a sabedoria das coisas vão conduzindo o processo ao ponto do prazer intenso das coisas simples.
Frango desfiado, maionese de leite, manjericão e muito carinho hoje me alimentaram como há muito não me sentia satisfeito. Naquele gosto havia sincero e profundo carinho. Agora preparo uma sobremesa, regada de sorriso, que há ser acompanhada de leveza, para ter da morena bonita o sorriso querido, oferecer dos meus cuidados e seguir nessa saga, com as bênçãos de Sêneca, até o último e definitivo dos prazeres dessa história, se saiba lá quando seja ou se será.
Almocei esplendorosamente bem hoje!
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Texto - Ética e a Advocacia
Ética é uma palavra de sentido aberto que, há muito, é empregada indiscriminadamente como se valor absoluto fosse. Muitas organizações, empresas, sociedades e grupos sociais detêm suas próprias éticas e formas de condutas.
Nos vernáculos e dicionários encontraremos definições de ética como parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana; ciência normativa que serve de base à filosofia prática; parte prática da filosofia social, que indica as normas a que devem ajustar-se as relações entre os diversos membros da sociedade; assim como, conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão. E todas nos interessam, em especial essa última.
No dia 11 de Agosto é comemorado o dia do Advogado e nessa oportunidade a 9ª. Subseção da OAB-RJ lança sua campanha anual, que nesse ano traz o tema:
Ética, a bandeira do Advogado, levante também a sua!
Importante destacar que nossa profissão é consagrada, constitucionalmente, como essencial à administração da justiça e em defesa dos valores da democracia e da legalidade, na construção de uma sociedade que atenda aos objetivos da República Federativa do Brasil, de acordo com nosso preâmbulo - assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias.
Dessa forma, Advogado empunha consigo, em sua conduta pessoal e profissional, a bandeira da Ética pelos valores mais caros e importantes da Constituição Federal, pois, sem sua atuação em defesa da dignidade humana, da soberania dos povos, do valor da democracia, do pluralismo político, do valor social do trabalho e da livre iniciativa, e, em especial, da cidadania, viveríamos ainda sob a espada de ditaduras e poderes autoritários jamais condizentes com o projeto de uma sociedade justa, livre e fraterna.
Assim, a Ordem dos Advogados do Brasil de Nova Friburgo (9ª. Subseção da OAB-RJ) conclama a todos os cidadãos de Nova Friburgo a erguerem suas bandeiras Éticas, para que possamos assim estimular o debate democrático, solidário, que construa consensos para o contínuo e profundo desenvolvimento de nosso povo, nossa sociedade e nossas instituições políticas, sociais e de nosso judiciário.
Participe!
Levante também a sua bandeira!
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Poesia - Saber
Saber
Das pétalas cantadas
Que róseas ondas perpetram
Luz e calor
Dão o sabor descabido
De planejar tudo
Idealizar muito
e
Sobretudo
Viver.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Poesia - Na forma
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Música - Fino Coletivo
Fino Coletivo
Doce junção de inúmeras referências musicais de Maceió e Rio de Janeiro. Em seu segundo disco (Copacabana) o Fino Coletivo consegue encantar desde a primeira música com sua pegada dançante e cheia de sabor. Podem até dizer que sou suspeito para falar dessa banda por meu vínculo de amizade de infância e afetividade ao Alvinho Cabra l(assim como ao Wado, que fez parte da primeira formação da banda), mas, como acredito que afetividade deve ser a tônica de todas as relações humanas, acho que esse se torna um ingrediente à mais de responsa para tratar do som dos caras.
Com um groove suingado, violão e guitarras com efeitos, os metais soul, o funkeado e a quebrada de samba-rock, sambalanço entre outros temperos, fazem as músicas preencherem os espaços com enorme positividade e energia dançante.
Na regravação de “Coisa linda”, já registrada na voz de Clarisse no projeto dela com Alvinho, Cinelux (ver artigo anterior), resta a comprovação da felicidade dessa mistura. “Ai de mim” insere o sampler e sintetizador que fazem desse sambinha uma linguagem universal de sonoridade, além da letra inspiradora e contagiante de paixão, como quando canta: “Você já imaginou, se não fosse o amor, você já estava no chão, você já estava na mão irmão...ai de mim, sem o amor dela aiaááá...”; sem pieguice e com extermo charme.
“Minha menina bonita” não demora estourará nas rádios de todo o Brasil. Reagge de riff impactante (eu vi a menina bonita, eu via a menina bonita...), além de frases como “meus olhos vão com ela, meu pensamento é dela...”, embala suave e promove a vontade de devoção à mulher/menina amada, como toda pessoa romântica e apaixonada quer para ser trilha sonora do amor e adoraração. De fato, anotem, não demora essa música vai estourar!
“Fidelidade” é sambalanço que bebe de toda fonte de mestres como Jorge Ben e o atual seu Jorge. Numa batida fantasticamente dançante, juro anseiar ver essa música no show ou em festinhas para contemplar toda a beleza de nossas mulheres lindas pagodeando no ritmo contagiante dessa música .
Além das demais, destaco ainda “Nhem, nhem, nhem” que apresenta todo o cheiro de maresia, a quebrada do côco de roda e musicalidade nordestina com toda a salada que representa o som da galera e a mistura marcante da banda.
Fomado por Alvinho Cabral (violão, guitarra, percussão e voz), Alvinho Lancelloti (Voz), Adriano Siri (voz), Daniel Medeiros (baixo e voz) e Donatinho (teclado) , Fino Coletivo têm o seu segundo disco lançado pela Oi e repercute como nova forma de produção e distribuição fonográfica (matérias no Globo, Veja, entre outros).
Vale uma conferida no site da galera para curtir esse som que já ganhou prêmio de som revelação em 2008 e, nesse ano de 2010, nos presenteiam com um trabalho extremamente feliz, positivo e alto astral, características de Maceió e do Rio de Janeiro que, apesar dos pesares, são dois belíssimos exemplares da beleza natural e humana de nosso Brasil brasileiro.
domingo, 27 de junho de 2010
Poesia - Porque?
terça-feira, 22 de junho de 2010
Contribuições - O Quase
Conversando com Célia sobre a vida e os medos que nos rodeiam, das pessoas que temem a tudo e nada encaram, ela me mostrou esse texto que há muito era atribuído ao Fernando Veríssimo e no entanto é de Sarah Westphal. Assim, segue o texto curativo e fantástico para deleite:
O
É o
Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda,
quem quase morreu está vivo,
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às
A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
A
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você.
Gaste
Sarah Westphal
Conclusão que tiro: se jogue!!!
sábado, 19 de junho de 2010
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Memórias - Boa Viagem e Mário Quintana
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Poesia - Nascimento
Nascimento
Te pari ao contrário
Pois de ti saí e rasguei os pulmões em choro pela vida concebida
E noutro rasgo as lágrimas foram da tua vida partida
Das lembranças nossas
Teu aniversário será sempre memorável
Pelas cestas de café da manhã, dos jantares com amigos
Dos abraços que nos demos, dos beijos
Para celebrar teu dia...de chegada à terra!
Nesse teu último aniversário
Celebrei com tua mãe
Sem nada dizer sobre ti
E com ela a vida
Um prato de sopa, un poquito de pan, mantequilla...
E com ela
A família e a intimidade
De quem te antecede
De quem te descende
Reverenciando a ti
Com alegria
Pois nesse seu aniversário... Mãe
Celebrei teu dia com a vida que me destes no seio de tua origem...
...e agradecido...
te amo!
Artigo - Utopia
Uma amiga (Liliane, via Orkut) me havia sugerido escrever sobre o espírito da Copa do Mundo e como isso comove as pessoas e as coloca em espírito mais global, de maior integração e vizualização com o mundo. De fato, distante disso, já havia pensado escrever algo acerca da seleção e a relação do brasileiro com o poder e assim respondi para minha amiga que faria.
Ocorre que no último final de semana nem um sopro de inspiração me havia ocorrido com esse tema. Temia parecer pedante, repetitivo e com pouco embasamento teórico acerca desse tema: poder, seleção e o brasileiro. Porém, algumas várias conversas e episódios se somaram e agora sinto um fio condutor acerca de uma importante reflexão sobre o tema e o universo do cenário ideal da existência, social e política do Brasil.
Pois bem, sábado sentei à mesa com Renato Onofre e sua companheira, Macele, e, no bate papo, conversamos sobre Raimundo Faoro e “Os donos do poder” (livro de grande importância para compreensão da formação do patronato político e econômico do Brasil). Nessa obra, o autor percorre desde a formação do Estado Português até as estruturas sedimentadas na República e no Estado Novo. Da soma dessa leitura com o clássico “Casa Grande e Senzala” (Sérgio Buarque de Holanda), uma idéia se formou em mim acerca da relação de nosso povo com o poder e os poderes constituídos: amor e ódio são elementos essenciais dessa relação!
O servil odeia a seu opressor mas quer, no fim das contas, ser opressor para sair da condição de oprimido, qual não houvesse outro caminho diferente de ser opressor. Na leitura de Raimundo Faoro fica clara a confusão entre o público e o privado, sendo os poderes do Estado confundidos como extensões da senzala (figura da leitura de Sérgio Buarque) e o exercício das funções públicas se confundem com a personalidade do executor, à margem da legalidade.
Na faculdade de Direito, certa vez, provoquei meus colegas acerca da real extensão de nossa capacidade em falar de "corrupção". Será não falamos de um comportamento, um traço cultural tão próprio e arraigado que já não pode mais ser considerado errado?
No Dicionário Michaellis se encontra assim:
cor.rup.ção -
sf (lat corruptione) 1 Ação ou efeito de corromper; decomposição, putrefação. 2 Depravação, desmoralização, devassidão. 3 Sedução. 4 Suborno. Var: corrução. Ora, ao se vangloriar do jeitinho brasileiro, da lei de Gerson em ditados como: farinha pouca meu pirão primeiro; faça o que digo não faça o que faço...não seriam valores instituídos, traços aceitos e assimilados em nosso povo? Que moral é essa contra a qual se atenta? Que devassidão é essa que nos assola? Onde estão nossos guardiões e quem são eles, afinal?!?
Essa continua sendo uma provação que promovo aos meus alunos...
Algumas pesquisas apontam a confusão esquizofrênica que os brasileiros promovem acerca do tema poder e corrupção. Numa delas, realizadas no ano passado (2009) e publicada no Folha de S.Paulo [4/10/2009 - pesquisa do Datafolha feita em todo o país], trouxe alguns números que reforçam esse questionamento: 13% dos brasileiros admitem já ter trocado seu voto por dinheiro, emprego ou presente (17 milhões de brasileiros!); 79% afirmam que os brasileiros vendem voto; 33% dizem que não é possível fazer política sem um pouco de corrupção (como assim "um pouco de corrupção"...alguém já ouviu falar em "meio-corrupto?"); 68% já compraram produtos piratas; 36% pagaram propina alguma vez; e, inacreditavelmente esquizóide é a constatação de que 83% admitem pelo menos uma prática ilegítima enquanto 74% dizem que sempre respeitam as leis, mesmo se perderem chances... como assim?!?
Noutra ponta, o brasileiro reclama da falta de segurança, quer mais polícia na rua mas não confia em suas forças policiais! A mais, em 2007, segundo Datafolha, 55% dos brasileiros eram a favor da pena de morte, porém o nível de crédito aos policiais e ao judiciário não ultrapassava 50% (também em pesquisa Datafolha).
O interessante é perceber que discursarmos uma moral que aparentemente não acreditamos ter, ao mesmo passo que apontamos o erro dos outros e não queremos sejamos flagrados nos nossos! Incrível.
Ainda hoje tive o prazer de conversar com a eterna professora e amiga Beatriz Vieira (por engano ao tentar falar com uma cliente de nome Bia) e bem me lembro de uma de suas aulas, na qual ela tratou do senso de justiça e do ideal de paraíso humano.
Desse último ela apontou para o fato de que sempre que quando a humanidade se destina ao excesso de religiosidade (essa desvinculada à experiência transcendente) é por abdicar da realização do paraíso na terra, abdicar da capacidade de construirmos um mundo solidário, justo e capaz de satisfazer a felicidade tão sonhada, qual no paraíso.
Sobre o senso de justiça, contou fábulas de Nasrudin (sábio sufi que provavelmente habitara a península ibérica durante a ocupação moura). Numa delas, indagado por um juiz se preferia o dinheiro ou a justiça, Nasrudin responde prefere o dinheiro e indignado o juiz lhe passa um sermão acerca da necessidade de justiça, o quanto esta permite a vida em sociedade e Nasrudin, após concordar, lhe sentecia “cada um procura aquilo que lhe falta!”. Noutra, a Nasrudin é pedido que distribua certa quantidade de nozes entre alguns meninos à beira da estrada e a eles pergunta: “na divisão dos homens ou na divisão de Deus?”; e, de pronto, os meninos respondem “na divisão de Deus!”, assim, Nasrudin entrega 1 noz para um dos meninos, 7 para outro, 4 para um terceiro e nenhuma para o último...as crianças, atônitas, indagam: “como assim?”; e Nasrudin pergunta: “Qual divisão pedistes?”; os meninos respondem: “a divisão de Deus!”; Nasrudin então elucida: “pois bem, Deus proporcionou a natureza assim: uns nascem onde têm algum, outros nascem onde tem muito, outros onde tem o suficiente e outros onde não tem nada!”...pois o senso de justiça é uma construção e compreensão humana, entre humanos!
Nessa colcha de retalhos de inspirações para esse texto, ainda hoje conversava com Renata Bandeira de Mello, amiga psicóloga, com quem dividia a percepção de que as pessoas estão pouco apaixonadas pelo Brasil nesta Copa do Mundo e que, definitivamente é necessário descompatibilizar o calendário das eleições com a Copa do Mundo: temos muito o que transformar e discutir sobre nosso país e perdemos muito tempo preocupados com a escalação da seleção (leia-se preocupados como: empurrados goela abaixo pelas pautas jornalísticas). Nessa conversa me esclareceu a necessidade da escrita desse texto com tal reflexão: poder, seleção e o brasileiro.
Em nossa cultura comumente se escuta: religião, política e futebol não se discutem! Sempre que escuto isso me perguto: então discutiremos o quê?
Acredito temos a má educação de desacreditar as discussões, os debates e desdenhar daqueles que os promovem. Nesse sentido, e por essa cultura de aceitação passiva, se conforta o brasileiro de abster-se e participar dos espaços de decisões políticas e sociais (conselhos municipais de educação, saúde, segurança, criança e adolescente, cultura, etc.) como forma de defesa de quem diz: "eu" até faço errado, mas como assim "eu" sou responsável pela zona que aí está? Eu corrupto(or)? "A culpa é deles!" ...eles sempre, eles os outros, eles os alienígenas! No paralelo com a simbologia da seleção: não posso dirigir o time então só me resta torcer quando começar a dar certo, enquanto não der "eu" a nego!
Volto a lembrar a pesquisa acima: 83% admitem pelo menos uma prática ilegítima enquanto 74% dizem que sempre respeitam as leis, mesmo se perderem chances...ou seja...somos esquizóides ou temos um total de 154% de pessoas nesse país?
Daí então chego ao cenário último de conversas com a qual me inspira esse texto, pelo msn converso com Juliana Kunzel e falamos sobre utopias e a importância das mesmas acerca da existência humana. Filóloga que é, Juliana questiona, mesmo indiretamente, o valor dessa palavra e aí novamente encaro o fato de perdermos significados tão importantes pela falta de culto ao nosso linguajar, de culto ao tempo dos significados e construção de valores necessários e reais aqui na terra, entre seres humanos, por meio das discussões e debates, dos exercícios mentais de significados..
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Exemplo: "sacrifício ordinário" parece algo ruim e depreciativo e, no entanto, em sua origem significa o “sacro oficio de todo dia”, aquilo que laboramos a caminho da redenção!
Lembro então da leitura de Barthes em uma aula inaugural (a obra é intitulada “A Aula”) que li enquanto ia a então namorada em Campinas. Nesse livro pequeno (cento e poucas páginas) Barthes discorre acerca do impacto de significâncias que as palavras promovem e, me lembrarei sempre, quando ouvi um Bombeiro que ia para o trabalho dizer que ia para o “serviço” arrepiei! Eita...o valor da palavra, o serviçal, o oprimido travestido de autoridade querendo ser opressor...indignei!
Assim, resumo assim: todos os dias luto pelo desenho de um tempo possível quando estaremos acostumados e nos interessaremos pelas coisas comuns como nossas e importantes a todos; assumiremos nossos espaços de participação cidadã e democrática e nos responsabilizaremos por nossas escolhas, assim como deveremos nos responsabilizar por nossos representantes; um tempo no qual reconheceremos a importância da diferença para a construção do consenso e perseguiremos a Utopia de tempos cada vez melhores e mais harmoniosos, fazendo aqui na terra o paraíso conquistado, o sonho realizado e, cada qual com sua cota de responsabilidade e deleite, serermos torcedores apaixonado de todas as realizações, sem desacreditar o técnico, a seleção ou quem esteja em comando, pois esse, utopia última, será o mais puro reflexo da vontade e comunhão coletiva.
Trabalhador não é servo, é senhor da força de trabalho.
Discussão não é desentendimento, é caminho para o consenso.
Utopia não é quimera, é sonho que se persegue!
Eu prefiro discutir religião, política e futebol...
...alguém?