sexta-feira, 4 de junho de 2010

Resenha - Amor sem escalas



“Amor sem escalas”

Acabo de assistir ao filme e tenho a sensação que toda sorte de atualidade está ali configurada. A robotização do indivíduo, condenado a não ter história senão seus cartões de milhagens e hospedagens padronizadas. A casa que é tão fria e impessoal quanto qualquer outro quarto que se possa pousar. A impessoalidade com que se conquista e se despista pessoas, qual a coisa mais natural na vida até se encontrar com uma igual, essa outra que estimula e descarta com a mesma frieza de quem pede simpaticamente: “500 gramas de presunto por favor?”.

Nosso herói que se justifica numa mochila vazia, que não carrega amigos, casa, família, obsoletos objetos e promove uma verdadeira resistência à inovação que o enfrenta (talvez pela falta de perspectiva caso não tenha meios de fuga), se revela escancarado com a eterna condição de um solitário: ser obsoleto. No tempo do consumo, da rapidez do interesse e o instantâneo do descarte, nesse tempo que socializa o prejuízo de um modelo econômico humanamente esgotado, George Clooney replica a ilha de um Tom Hanks engravatado que quando quer romper com seus limites percebe que o mundo não necessariamente aperceberá sua mudança dentro de suas expectativas.

Durante a trama, as pessoas no mundo escancaram suas realidades e limites, limitam o herói desterrado. As outras personagens significam espaços e relacionamentos que traduzem a busca de sentido, firmeza, perenidade, a busca de algo/alguém que conforte. E durante toda a narrativa as perguntas persistem: por quanto tempo esse sentimento de conforto pode durar? Quão perene é qualquer relacionamento? Quando, realmente, o outro entenderá o "protocolo" e não colocará toda a história em risco, ou, mostrará ao herói a realidade de forma diversa da que ele pretendia ou entendia?

Nesse ponto o paralelo é necessário: em o Náufrago a personagem, tirada da sua zona de conforto, recria todos os mecanismos de sobrevivência, e, nessa nova forma de vida, alimenta o antigo amor, cultua um amigo que ele retoca, discute, cuida e leva consigo. Essa mesma personagem, ao final, percebe que a distância e o tempo fizeram o antigo amor procurar outro amor, percebe que os amigos de trabalho vão oferecer o mesmo cardápio por anos exclusivo de seu recolhimento, percebe que o amigo ficou no meio da jornada e, na cena final, está lá a encruzilhada apresentando todos os sentidos possíveis para a decisão que somente aquele herói pode tomar.

Em “Amor sem escalas”, quando nosso “náufrago” se conscientiza de sua condição, recomeça sua jornada em frente a tantos destinos e reembarca na grande incerteza daquilo que lhe pode acontecer na próxima parada, na próxima cidade, no próximo hotel, além, é claro, de estar absolutamente só.

E, fato, a possibilidade de destinos é realmente muito grande!

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