segunda-feira, 31 de maio de 2010

Relato - O Coração e Vinícius

Foto: Igor Farah

Acho impressionante como pode se bagunçar um coração! O meu, de fato, resta uma zona total!

E para o coração a distância e expectativas são inimigos ou desafios maiores.

Com a distância física a impossibilidade do convívio constante, a delícia de dividir as coisas todas dos dias, os prazeres e o pesares da vida. De ir a um cineminha, tomar um choppinho, fazer cafuné na preguiça do domingo.

A distância do espírito quando a outra pessoa não aceita ou não divide o tanto que você espera que se divida. E trabalhar o universo de nossas expectativas e a distância resta como grande desafio!

E quando a outra pessoa extrapola em raiva e descaso, como fosse a única pessoa machucada na história, quando não se pode viver essa proximidade querida e a distância impera? E quando a outra pessoa demonstra descaso e tão pouco te procura com a mesma vontade que você gostaria que procurasse, ao menos, pelo ser humano que és e quer ter com ela como tal? Pois é, tudo da outra pessoa nos atinge em nossas expectativas: de compreensão, de aceitação das circunstâncias, da dinâmica da vida que se impõem às vontades...

Ah! Relacionamentos à distância já tive vários e sempre são muito dolorosos, bem sei. Inseguranças as mais diversas povoam as cabeças de amantes distantes. Cobranças indevidas para aqueles que se querem, cobranças essas que partem sempre de um referencial exclusivamente subjetivo, valoradas pela própria expectativa alimentada...sempre essa expectativa alimentada.

Esse fim de semana foi importante. Agora são dois fins de semana sem o contato daquela mais querida e, dentro das minhas expectativas, de quem mais queria notícias. Encaro, assim, a solidão de quem emana e percebe a inexistência de eco, de qualquer retorno.

Aí fica assim esse coração bagunçado que não queria mais do que um tanto de humanidade da distante querida, queria mesmo poder dividir só um pouquinho, ter notícias, mesmo não sejamos nada além de queridos, amigos, ou outro qualquer referencial de troca saudável...

Egoísta, bem sei, não poder ser tudo mas queria ao menos ser alguma coisa, jamais ser nada ou, pior, ser passado...

Assim, fechado para balanço nos assuntos do coração, vou quietinho me alimentar das coisas do intelecto e talvez, numa dessas esquinas da vida, eu seja pego e viva a delícia e sabor agora perdidos.

Segue-se o bloco...outro...em outros carnavais...

Segue a vida para outros capítulos...

Segue...


Ps.: após esse escrito acabo por lê o poetinha Vinícius de Moraes que assim escreveu:

ELEGIA LÍRICA

(...)

A minha namorada é tão bonita, tem olhos como besourinhos do céu
Tem olhos como estrelinhas que estão sempre balbuciando aos passarinhos...
É tão bonita! tem um cabelo fino, um po menino e um andar pequenino
E é a minha namorada...vai e vem como uma patativa, de repente morre de amor
Tem fala de S e dá a impressão que está entrando por uma nuvem adentro...
Meu deus, eu queria brincar com ela, fazer comidinha, jogar nai-ou-nentes
Rir e num átimo dar um beijo nela e sair correndo
E ficar de longe espiando-lhe a zanga, meio vexado, meio sem saber o que faça...

A minha namorada é muito culta, sabe aritmética, geografia, história, contraponto
E se eu perguntar qual a cor mais bonita ela não dirá que é a roxa, embora brinque.
Ela faz coleção de cacto, acorda cedo vai para o trabalho
E nunca esquece que é menininha do poeta
Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer casar comigo? ela diz...- Quero se mamãe for!
Se eu lhe perguntar: Meu anjo, quer casar comigo? ela diz...- não, ela não acredita.

É doce! gosta muit de mim e sabe dizer sem lágrimas: Vou sentir tantas saudades quando você se for...
É uma nossa senhoriazinha, é uma cigana, é um coisa
Que me faz chorar na rua, dançar no quarto, ter vontade de me matar e de ser presidente da República.
É boba, ela! Faz tudo, tudo sabe, é linda, ó anjo de Domremy!
Dêem-lhe uma espada, constrói um reino; dêem-lhe uma agulha, faz um crochê
Dêem-lhe um teclado, faz uma aurora, dêem-lhe razão, faz uma briga...

E do pobre ser que Deus lhe deu, eu, filho pródigo, poeta cheio de erros
Ela fez um eterno perdido...
D

2 comentários:

  1. Seu blog "Coisinhas e outras Palavras" está ficando muito legal... Você escreve com muita propriedade e sentimento. Parabéns!Muita luz e inspiração nesta sua caminhada...

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  2. Thiago, gostei muito deste post.
    Estou vivendo uma situação parecida e estava muito angustiada... mas ler as suas belas palavras me trouxe muito conforto.

    Parabéns pelo blog, você escreve muito bem, obrigada por compartilhar com outras pessoas da sua alma que parece ser tão sensível e criativa.

    Sempre gostei muito de encontrar novos caminhos e pensamentos nas coisas bonitas que os poetas escrevem. Pode ter certeza que estarei sempre visitando a sua página (Ganhou uma fã, rs). Suas palavras e reflexões servem para aquecer alma e coração!

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